quarta-feira, 19 de maio de 2010

Paisagem Natural: Serra da Abobareira






A norte do rio Douro, nos contrafortes ocidentais do Marão e com toda a sua morfologia influenciada por duas linhas de água onde correm os rios Ovil e Fornelo, fica a Serra da Aboboreira. Eleva-se até uma altitude de 1 000 metros, sendo de destacar, pela sua importância, três pontos: o da Abogalheira, com 962 metros; o de Meninas, com 970 e o da Senhora da Guia com 972 metros.

Tem um clima marcadamente húmido, com uma precipitação média anual superior a 1 400 mm e uma temperatura média de 10 a 12,5ºC. Os verões são curtos, os invernos rigorosos, e os meses menos pluviosos são os de Julho e Agosto, se bem que, geralmente, instáveis.

A Serra da Aboboreira, foi povoada desde o Paleolítico Inferior (30 000 a.C.), época de que data o mais antigo achado ali recolhido - "um uniface de tipo acheuleuse, melhor diríamos um acheuleuse médio em caminho para o superior, talhado num calhau rolado de xisto metamórfico, um pouco micáceo e de cor acinzentada", (Afonso do Paço, 1979) - e apresenta inúmeros vestígios do Neolítico e da Idade do Bronze, datados de 2 500 a.C., como o dólmen de Chão de Parada. O povoamento mais intenso das aldeias da Aboboreira data do início da nacionalidade, com os seus habitantes a viverem exclusivamente da agricultura.

Não muito acidentada, estendendo-se por longos planaltos, a Aboboreira favoreceu, por isso, a ocupação do seu território. De facto, o povoamento, de tipo concentrado, fez-se desde longa data, tanto nos vales como nas zonas mais altas onde, todavia, as condições para a sobrevivência humana são menos favoráveis, quer pela agressividade dos invernos e dos ventos frios, constantes, que sopram do Marão, quer pelas dificuldades de acesso e de subsistência.
A maior parte do território da serra é coberto por vegetação rasteira (tojo, urze, giesta...), apresentando na periferia importantes conjuntos arbóreos de espécies nativas (carvalhos e castanheiros...) ou de introdução recente, como o pinheiro bravo ou o eucalipto.

Este tipo de vegetação alberga uma fauna de pequeno porte (aves de rapina, anfíbios, répteis, aves migradoras e mamíferos como o lobo, javali, raposa, coelho, doninha, fuinha, gato selvagem e lontra), para além de rebanhos colectivos de cabras e ovelhas e de gado bovino que, diariamente, procuram a sua alimentação nas planuras dos montes.

A Serra da Aboboreira ocupa em toda a sua extensão uma área total de 118,9 quilómetros quadrados, tendo uma população de 13 100 habitantes e uma densidade populacional de 110,1 habitantes/Km2. Distribui-se pelos concelhos de Amarante, Baião e Marco de Canaveses e, em boa parte, as suas faldas assumem hoje características periurbanas, registando-se concentração de população, serviços, equipamentos e alguma indústria.

Assim não é, porém, nos núcleos centrais e tradicionais da serra, edificados entre os 500 e os 1 000 metros de altitude, que, estendendo-se por uma área aproximada de 50 quilómetros quadrados, têm uma população de 1 525 habitantes (12% do total da serra) e uma densidade de, apenas, 30,5 habitantes/quilómetro quadrado.

A agricultura e a pastorícia constituem a base das economias locais. A primeira tem associados dois sistemas dominantes, conformes ao tipo de paisagem: um de minifúndio, de meia encosta, chamado várzea, de policultura intensiva, em que o vinho verde, o milho, as hortícolas e as fruteiras são as principais culturas; outro, de montanha, em que a criação de gado em regime extensivo e a exploração florestal predominam.

Nos povoados serranos as parcelas cultivadas dispõem-se nos pequenos vales que acompanham as linhas de água. Junto a cada aglomerado avista-se uma área de pastagens e, no limite destas, é costume encontrarem-se pequenos bosques com espécies nativas.

Os campos não são bordeados com vinha, mas com sebes. A exploração pecuária tem um peso significativo no rendimento dos agregados familiares com a venda dos animais para abate.
A agricultura e a pecuária, de resto, são interdependentes. A agricultura propícia a pecuária pelos pastos e cereais que cria, e esta, por sua vez, vai buscar as "camas" para o gado às folhadas da floresta ou às leguminosas dos matos que depois são transferidos (em misturas com estrumes e chorumes) para o solo arável das zonas cultiváveis onde, incorporados, vão melhorar a fertilidade dos solos.

Neste processo emerge, na Aboboreira, ao lado do homem, como força de tracção, o bovino autóctone da raça arouquesa, que faz o trabalho e produz vitelos de qualidade criados em zonas de pastagem ou áreas de baldio. Serra com riqueza florística, a apicultura é uma actividade em expansão na Aboboreira, onde se produz mel de óptimas características organalépticas.

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